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O desensinar também ensina
Uma caixa repleta de antigos diapositivos ou diafilmes, organizados em outras caixas pequeninas, me transportaram diretamente aos arquivos de um tempo não vivido.
Encontrado em uma escola da rede pública municipal do Rio, o material é proveniente de um programa imagético-pedagógico adotado de forma oficial nas salas de aula brasileiras entre as décadas de 30 a 60 através da criação do Instituto Nacional de Cinema Educativo (INCE). A produção de conteúdo audiovisual da época tinha notadamente uma perspectiva nacionalista, destacada pela criação de séries educativas, com temas que iam de História do Brasil à biografia de personalidades que ajudaram a construir uma identidade nacional.
Resolvi intervir radicalmente nessas transparências utilizando materiais como tesoura e fita, criando sobreposições manuais com uma técnica rudimentar, tal qual um aluno que realiza seu dever de casa com os instrumentos de que dispõe.
Com o objetivo de criar novas imagens, reconfiguro essa memória não vivenciada, que pode ser reativada e livremente manipulada para além da função do arquivo, ganhando um outro sentido, que subverte as lições que os diapositivos originalmente preconizavam.
Por fim, cabe mencionar a predileção pelo prefixo des-, notável na obra de Manoel de Barros. Para desexplicar, recorre à desutilidade poética. Através dessas novas combinações, que a tornam um novo objeto, mas sem a “utilidade” educativa original, é criada uma didática poética ou uma “desdidática”, “enfatizando o valor do imprestável, a sensatez do despropósito, a nadeza que preenche, a desinventação das coisas para recriá-las”, como diria o poeta.
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The Lesson in Miseducating
A box full of slides or reversal films, organized in other boxes, tiny ones, took me straight back to the archives of a time, for me, completely unimaged.
Found in a Rio’s public school, the material comes from an image/teaching-oriented program formally administered in Brazilian classrooms from 1930s through 1960s under the lead of the recently-created National Institute of Educational Cinema (INCE). The production of audiovisual content at the time followed a patent nationalist bias, underlined by the creation of educational series, the themes of which ranged from the Brazilian History to the biography of personages who helped build national identity.
I decided to radically interfere with these transparent bases resorting to tooling as scissors and tapes, in order to make handmade overlapping with a primitive technique, much similar to that of a student doing his homework.
With the purpose of concocting new images out of such films, I reshaped such uncharted memories. Brought to life again, manipulated beyond their archival purpose, the idea was to instill new meaning into them, subverting the lessons originally dictated by the slides.
Lastly, attention should be drawn to the leaning towards the mis- prefix underlying Manoel de Barros’ lifework. To mis-explain, he resorts to poetic mis-utility. By means of these new combinations, which make new objects out of old slides, deprived of the former educational “utility,” a poetic didactics is born, which rather is a “misdidactics,” “stressing the value of useless, the sensibility of misguiding, the nothingness that fills up with new meaning, the mis-inventing of things to create them anew,” as the poet himself would better put into words.
Rafael Adorján, 2018
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O desensinar também ensina
Uma caixa repleta de antigos diapositivos ou diafilmes, organizados em outras caixas pequeninas, me transportaram diretamente aos arquivos de um tempo não vivido.
Encontrado em uma escola da rede pública municipal do Rio, o material é proveniente de um programa imagético-pedagógico adotado de forma oficial nas salas de aula brasileiras entre as décadas de 30 a 60 através da criação do Instituto Nacional de Cinema Educativo (INCE). A produção de conteúdo audiovisual da época tinha notadamente uma perspectiva nacionalista, destacada pela criação de séries educativas, com temas que iam de História do Brasil à biografia de personalidades que ajudaram a construir uma identidade nacional.
Resolvi intervir radicalmente nessas transparências utilizando materiais como tesoura e fita, criando sobreposições manuais com uma técnica rudimentar, tal qual um aluno que realiza seu dever de casa com os instrumentos de que dispõe.
Com o objetivo de criar novas imagens, reconfiguro essa memória não vivenciada, que pode ser reativada e livremente manipulada para além da função do arquivo, ganhando um outro sentido, que subverte as lições que os diapositivos originalmente preconizavam.
Por fim, cabe mencionar a predileção pelo prefixo des-, notável na obra de Manoel de Barros. Para desexplicar, recorre à desutilidade poética. Através dessas novas combinações, que a tornam um novo objeto, mas sem a “utilidade” educativa original, é criada uma didática poética ou uma “desdidática”, “enfatizando o valor do imprestável, a sensatez do despropósito, a nadeza que preenche, a desinventação das coisas para recriá-las”, como diria o poeta.
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The Lesson in Miseducating
A box full of slides or reversal films, organized in other boxes, tiny ones, took me straight back to the archives of a time, for me, completely unimaged.
Found in a Rio’s public school, the material comes from an image/teaching-oriented program formally administered in Brazilian classrooms from 1930s through 1960s under the lead of the recently-created National Institute of Educational Cinema (INCE). The production of audiovisual content at the time followed a patent nationalist bias, underlined by the creation of educational series, the themes of which ranged from the Brazilian History to the biography of personages who helped build national identity.
I decided to radically interfere with these transparent bases resorting to tooling as scissors and tapes, in order to make handmade overlapping with a primitive technique, much similar to that of a student doing his homework.
With the purpose of concocting new images out of such films, I reshaped such uncharted memories. Brought to life again, manipulated beyond their archival purpose, the idea was to instill new meaning into them, subverting the lessons originally dictated by the slides.
Lastly, attention should be drawn to the leaning towards the mis- prefix underlying Manoel de Barros’ lifework. To mis-explain, he resorts to poetic mis-utility. By means of these new combinations, which make new objects out of old slides, deprived of the former educational “utility,” a poetic didactics is born, which rather is a “misdidactics,” “stressing the value of useless, the sensibility of misguiding, the nothingness that fills up with new meaning, the mis-inventing of things to create them anew,” as the poet himself would better put into words.
Rafael Adorján, 2018
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Cartaz da exposição | Exhibition poster | Oi Futuro | Rio de Janeiro, 2018 | design por | by Aline Carrer
Exposição individual | Individual exhibition | Oi Futuro | Rio de Janeiro, 2018 | foto | photo Rafael Pereira
fotografia por | photography by | Daniela Paoliello
DESDIDÁTICA | Programa Fique Ligado | TV Brasil | Oi Futuro | Rio de Janeiro | 27/04/2018
Desdidática 1 | fotografia | 75 x 50 cm | 2018
Desdidática 2 | fotografia | 75 x 50 cm | 2018
Desdidática 3 | fotografia | 75 x 50 cm | 2018
Desdidática 4 | fotografia | 75 x 50 cm | 2018
Desdidática 5 | fotografia 75 x 50 cm | 2018
Desdidática 6 | fotografia | 75 x 50 cm
Desdidática 7 | fotografia | 75 x 50 cm | 2018
Desdidática 8 | fotografia | 75 x 50 cm | 2018
Desdidática 9 | fotografia | 75 x 50 cm | 2018
Desdidática 10 | fotografia | 75 x 50 cm | 2018
Desdidática 11 | fotografia | 75 x 50 cm | 2018
Desdidática 12 | fotografia | 75 x 50 cm | 2018